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O bioma que ocupa um quarto do território brasileiro não tem rios de grande vazão, mas concentra nascentes que alimentam oito das 12 grandes regiões hidrográficas brasileiras. Especialistas consideram o Cerrado como o berço das águas, já que nele estão localizados três grandes aquíferos – Guarani, Bambuí e Urucuia –, responsáveis pela formação e alimentação de importantes rios do continente. A preservação da vegetação do Cerrado é fundamental para a manutenção dos níveis de água em grande parte do país.

“O Cerrado é como uma floresta ao contrário, as raízes são profundas, maiores que as copas. Elas são responsáveis por absorver a água da chuva e depositá-la em reservas subterrâneas, os aquíferos”, explica o professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) e diretor do Instituto do Trópico Subúmido, Altair Sales Barbosa.

O berço das águas, o Cerrado matava a sede do Brasil. Agora, ele precisa de proteção para garantir o abastecimento do país. A água que fica(va) armazenada no solo poroso do Cerrado abastecia 12 regiões hidrográficas brasileiras. Com o acelerado processo de desmatamento do bioma desde a década de 1970, 50% da vegetação original desapareceu e os níveis da água subterrânea em aquíferos e lençol freático diminuíram demais. Em entrevista à Agência Brasil, o professor da PUC e diretor do Instituto do Trópico Subúmido, Altair Sales Barbosa, explicou: “O Cerrado é como uma floresta ao contrário, as raízes são profundas, maiores que as copas. Elas são responsáveis por absorver a água da chuva e depositá-la em reservas subterrâneas, os aquíferos”. Com a substituição da vegetação nativa por pasto para gado (36% do rebanho do país) e plantação de soja (mais de 63% de todo grão brasileiro), os aquíferos não receberam água e deixaram de abastecer diversas nascentes.

Embora não tenha sempre uma formação exuberante de floresta (às vezes tem), o Cerrado possui um papel importante para matar a sede do país. A vegetação original do Cerrado tem raízes longas, que entram profundamente no solo e criam caminhos por onde a água pode passar: “Quando as árvores morrem, essas raízes formam um caminho preferencial para a infiltração”, diz Eloi, da UnB. Substituí-la dificulta a recarga do aquífero. A vegetação exótica tem raí­zes curtas, que não se prestam a esse serviço. Nas áreas de pastagem mal manejadas, o pisoteio do gado ainda compacta o solo. A água não penetra nas pastagens degradadas. Estima-se que 70% delas apresentem algum grau de degradação. O desmatamento do Cerrado demorou a ser visto como um problema. A vegetação do bioma é variada, com regiões de mata fechada.

Segundo o especialista, com o desmatamento e a diminuição da vegetação nativa, responsável por levar a água para regiões mais profundas, os aquíferos chegaram ao nível de base, ou seja, deixaram de abastecer diversas nascentes.

Para agravar a questão da reserva de água, o regime de chuva tem mudado nos últimos 20 anos.

Para o pesquisador da área de hidrologia da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Cerrados, Jorge Werneck, os períodos de chuva têm ficado mais curtos e os de seca, mais longos. A média pluviométrica em determinadas estações caiu de 1,5 mil milímetros para 1,2.

“Isso muda bastante o ciclo hidrológico, faz com que nossos solos fiquem mais secos, os lençóis freáticos desçam, sejam rebaixados e isso afeta diretamente todo o regime de vazão dos nossos rios”, explica.

O coordenador do curso de engenharia ambiental e sanitária da Universidade Católica de Brasília, Marcelo Gonçalves Resende, acredita que a ação do homem é a grande responsável pela diminuição da chuva.

“A meu ver, tudo está relacionado. O grande problema é a má gestão do uso e da ocupação do solo, seja em áreas urbanas ou rurais. É possível que haja ocupação, desde que seja feita de forma sustentável, existem técnicas, claro que tem que ter agricultura, criação de gado, indústria, moradia. Mas isso tem que ser feito de forma sustentável. Existem técnicas, mas o ser humano esquece, pela ganância, pela vontade de obter lucro fácil. O último ponto que leva em consideração é a questão ambiental.”

Fonte: Agência Brasil e Revista Época – Matéria de 2015 e 2017 – As ameaças persistem e o cenário de escassez de água se agrava a cada ano. Estudos comprovam que na região de atuação da Save Cerrado, o lençol freático vem baixando meio metro ao ano.

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