Alvo favorito do grupo ‘ambientalista’ do governo, organizações da sociedade civil atuaram pela natureza. Veja as ações
As organizações da sociedade civil, sejam elas ONGs (organizações não-governamentais), entidades voluntárias ou conselhos, viram ascender em 2019 um discurso forte contra a atuação organizada. Em relação ao meio ambiente. No estopim da crise da Amazônia, o presidente Jair Bolsonaro chegou a associar as ONGs com as queimadas recordes na floresta. Declaração esta que chocou ambientalistas dentro e fora do Brasil.
No entanto, o ano não foi marcado (apenas) por ataques – havia muito a ser feito. Ao contrário do que sugerem os altos escalões do governo, ONGs e demais coletividades foram responsáveis por atuações coordenadas de combate ao fogo na floresta. Além disso, retirada do óleo das praias do Nordeste e pioneirismos em proteção do bioma mais devastado atualmente.
CartaCapital separou algumas ações que entidades ambientalistas fizeram pelo Brasil em 2019 para, quem sabe, inspirar governantes em 2020.
1. “Ambientalismo de resultado” em Bailinque (AP)
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, é um crítico da ampliação da demarcação de terras indígenas e afirma, quando pode, que defende o chamado “ambientalismo de resultado”. Do mesmo modo, uma tentativa de aplicar sustentabilidade ambiental e de possibilidades para os moradores das regiões amazônicas.
Enquanto o discurso de Salles ainda está limitado a encontros com governadores. Todavia, a organização Greenpeace, em parceria com o Instituto IDEAAS, a Associação da Comunidades Tradicionais do Bailique (ACTB) e a Universidade Federal do Rio Grande (FURG), instalou painéis fotovoltaicos para alimentar freezers na ilha de Bailinque, no Amapá, onde peixes e polpas de açaí servem como base da economia local.
Bailinque é um arquipélago formado por oito ilhas na foz do Rio Amazonas. Para chegar até a região, leva-se de 12 a 14 horas de barco de Macapá, capital do estado. Ou seja, a inconstância da energia elétrica na região fazia com que moradores tivessem que depender de um gerador a diesel, que funcionava apenas 4h por dia devido ao alto custo de manter o equipamento, relata o Greenpeace.
VOLUNTÁRIOS E MORADORES INSTALAM PAINÉIS DE ENERGIA SOLAR EM REGIÃO DO ARQUIPÉLAGO DE BAILINQUE, NO AMAPÁ (FOTO: REPRODUÇÃO/GREENPEACE)
3. O fato do gerador
O fato de o gerador funcionar a partir da queima de um combustível fóssil em uma das regiões mais próximas do Trópico no País. Além de ineficiente, não era sustentável. Além dos painéis, foi instalado um sistema de captação de água da chuva em três comunidades. Nesse sentido, as entidades responsáveis puderam ministrar três dias de curso sobre como operar a tecnologia.
“O gelo dentro da comunidade muda bastante nossa vida, porque a gente precisa dele. Antes, a gente tinha que ir buscar em outra comunidade, gastar tempo e o dinheiro com a gasolina do barco. Esse tempo já era suficiente pra perder as comidas que estragavam em casa”, disse Suzana Barbosa Sarges, moradora da vila do Arraiol, ao Greenpeace.
3. Salvando o Nordeste – e as Forças Armadas – do óleo
Embora a concorrência por maior tragédia ambiental tenha se acirrado nos últimos anos no Brasil – os rejeitos da lama de Mariana e Brumadinho (MG) persistirão na natureza e na memória por gerações. Além disso, o vazamento de um óleo cru, bruto e insistente no Nordeste brasileiro é o acidente ambiental com maior extensão territorial da história.
Não foi apenas o óleo nas praias que chamou a atenção, e sim a demora para que o governo federal encarasse o episódio com suas devidas proporções. Até o meio de dezembro, 959 localidades tinham sido atingidas, segundo o Ibama.
No começo foram os voluntários do Movimento Salve Maracaípe, de Pernambuco, que primeiro denunciaram o aparecimento de manchas de óleo no litoral. Também foram eles e outros apoiadores locais que ficaram com o primeiro ônus de encararem os pedaços espessos e desconhecidos do óleo, no que chamam de “fase emergencial” do ocorrido – quando havia silêncio por parte do governo e desespero de quem via o óleo chegar.
“Houve falta de aparatos e estruturas por parte do governo federal para identificar o petróleo em alto mar, além da retirada do que chegou às praias e a criação de protocolos”, diz Sidney Marcelino Leite, um dos coordenadores do projeto.
“Aqui em Pernambuco, o Salve Maracaípe fez uma grande mobilização de voluntários e recursos diversos, como EPIs (Equipamento de Proteção Individual) e alimentação. Inclusive, fornecemos ambos para o pessoal das Forças Armadas que chegaram depois sem nenhuma estrutura adequada do ponto de vista de proteção individual”, relata Sidney. Em operações voluntárias que duraram menos de uma semana, mais de mil toneladas do piche foram retiradas das praias pernambucanas onde o Salve Maracaípe atuou.
4.Força tarefa
Uma força-tarefa com Marinha, Ibama, ICMBio, Forças Armadas e demais organizações foi formada postumamente para prestar respostas às demandas da população nordestina e brasileira sobre o acidente, que permanece sem respostas conclusivas sobre origem do óleo, a real dimensão de quando as manchas irão parar de chegar na costa e os impactos futuros na biodiversidade marinha.
De acordo com a agência de checagem Aos Fatos, a crise pelo vazamento de óleo ocupou apenas 10% da agenda oficial do ministro Salles. Jair Bolsonaro não chegou a comparecer na região para acompanhar as investigações. O Salve Maracaípe e demais voluntários continuam esperando por respostas.
5. Sem fogo para contar a história
A região de Alter do Chão não é apenas casa das praias conhecidas como “Caribe amazônico”, nome cunhado em homenagem à beleza exuberante das águas do Rio Tapajós nos bancos de areia fofa. Também abriga a maior reserva de água doce do mundo. A preciosidade do local, porém, não fez com que a área fosse isenta dos incêndios que acometeram a Amazônia no segundo semestre de 2019.
Um grupo de voluntários treinados pelo Corpo de Bombeiros decidiram criar, ainda em 2017, uma equipe de brigadistas de combate ao fogo na região. Um incêndio que aconteceu ao redor da casa de um dos voluntários mobilizou a criação do time em uma área gigantesca sem a devida cobertura por parte das forças armadas e das equipes de combate ao fogo.
O descaso cobrou seu preço: em setembro de 2019, ajudaram as autoridades a controlarem um incêndio que assolou a região. Por ajudarem a combater a eminente tragédia ambiental, os brigadistas foram presos meses depois. A acusação? Fogo criminoso nas regiões que ajudaram a salvar.
GIOVANNA GALVANI 27 DE DEZEMBRO DE 2019 –
https://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/5-acoes-que-as-ongs-fizeram-pelo-meio-ambiente-e-o-governo-nao-fez/
Comentários